terça-feira, 16 de janeiro de 2007

ESSE SER PALHAÇO * PARTE VIII

Dessa forma, em Contraste enfrentam o mundo, o público.



Simbolizam, então, a coragem de enfrentar o quotidiano, com todas as incertezas, com todas as hipóteses de errar, de ser ridículo, mas com perseverança grotesca. Com a simplicidade da ingenuidade, ele altera a verdade, fazendo-a poesia, transformando o desejo em realidade. O Palhaço não tem vergonha de ser humano, de se enganar, de falhar à primeira, à segunda... porque ele acredita que conseguirá e, pelo burlesco, pelo grotesco que todos nós somos, faz-nos acreditar que talvez nós também consigamos.

Esse ser Palhaço é o sonho de um dia, pelo humor, vencermos todos os medos, todas as agruras, vencer todas as convenções e mostrar que ser ridículo não é um pecado quando a humanidade vence. Podem rir-se dele, que ele não se importa, já que ele está acima de quem se ri. É ele que tem o poder de fazer uma flor chorar, é ele que tem um coração do tamanho do mundo...

Por isso, nos últimos tempos, o Palhaço tem saído do Circo e investido em novos campos. Simbolizados pelo nariz vermelho, que deixam como testemunho de esperança, como uma porta aberta para o sonho do futuro, encontramos os "Palhaços sem Fronteiras", "Os Médicos Palhaços"... ONGs que nas ruas, nos campos de refugiados, nos Hospitais, nos dão uma nova visão da humanidade. Eles usam o humor como pedagogia, como psicanálise,
como diálogo onde na maior parte das vezes só se encontra medo, ódio, dor e morte.

Naturalmente desvalorizados pelas instâncias oficiais, cinzentas, economicistas, globalistas, Sado-mazoquistas, estes Palhaços são a esperança a passear-se entre o terror, a vida contemporânea.

Como já escrevi em vários sítios, o humor é um excelente anti-depressivo, um conceituado analgésico, um importante factor imunológico, um exercício aeróbico. Para além da ginasticação dos músculos, da libertação de químicos naturais no corpo, é um "desentupidor" de mentalidades. Por tudo isto, é um perigo para o poder político, poder económico, poder...

Esta exposição não é nenhum perigo, antes uma humilde homenagem a esse ser, Palhaço tão amado e tão desprotegido, que já nos fez rir, sonhar muitas vezes.

Graças à colaboração generosa de setenta humoristas gráficos de trinta e três países, podemos fazer uma viagem nesse mundo de irreverências.

Símbolo de liberdade, símbolo do nosso ser grotesco, sabemos que enquanto houver um Palhaço vivo na Terra, a humanidade tem hipóteses de sobrevivência.