segunda-feira, 15 de janeiro de 2007

ESSE SER PALHAÇO * PARTE VII

Associados a estes estão os adereços as indumentárias.

Os adereços e cenografias são exageradas no tamanho, incongruentes na função, o que nos leva aos artifícios de transformação do normal em humorístico. São eles a Deformação, a Incongruência, a Exageração, a Repetição e o Contraste.

Se já encontrámos e falámos dos primeiros quatro processos básicos do cómico, o Contraste, apesar de também estar presente nos gestos, na linguagem, surge com maior força no âmbito da imagem, na forma de apresentação, vestuário, máscara.

O Palhaço mais comum ou popular é o Augusto, o trapalhão que se evidencia pelos seus farrapos de múltiplas cores, os sapatos exagerados, o nariz vermelho. Ele contrasta irremediavelmente com a normalidade, mas mesmo dentro das incongruências circenses ele contrasta com outro Palhaço, o dito Cara Branca, o Palhaço Rico.

A diferença entre o pobre e o Rico não é só o contraste de aparências, mas também de comportamento. O Palhaço Branco veste roupa bem costurada, com aspecto distinto, apesar de não normal. Calças de balão, tecidos brilhantes, sapatilhas de ballet contrastam com o negligente Augusto. Tem bons modos, apela para a sua inteligência, em contraste com a esperteza do Augusto. É ele que normalmente conduz os diálogos e que põe a ridículo o comportamento do outro. Ele é o poder, é o representante das censuras castradoras da sociedade, da falsidade das aparências. Em contrapartida o Augusto, nas suas tentativas desajeitadas, na imperfeição da sua linguagem e dos seus gestos, é a rebelião, a liberdade que, depois de muitas quedas, muita pancada, consegue sempre triunfar. É o patinho feio a quem o público concede o prazer de amar e proteger com o seu riso.

Mas se há indumentárias diferentes, também há o caso da máscara, que é um jogo de reencarnações no outro eu, a passagem onírica para o mundo da liberdade da fantasia. Pela máscara se encarna a personagem, se veste a pele do novo ser.

A máscara do Palhaço Rico é essencialmente branca, sem nariz vermelho, cores moderadas. A do Augusto, por contraste, evidencia os olhos e a boca com grandes manchas brancas complementadas com outras cores que evidencia o grotesco da expressão. Neste caso o nariz vermelho é fundamental. (A importância desta máscara como caracterizadora do personagem, aliada a uma constante originalidade, fez com que cada palhaço procurasse uma identidade própria, e nunca repetindo a maquillage de outro artistas. Para isso existe um banco de dados com as diferentes máscaras usadas pelos caricaturistas de todo o mundo.)
Dessa forma, em Contraste enfrentam o mundo, o público.

(continua)