ESSE SER PALHAÇO * PARTE III
Como tudo, tem antecedentes desde os primeiros passos da evolução da humanidade. E neste caso, este espectáculo, esta arte, está interligada à necessidade de exibicionismo deste género animal. Mostrar as capacidades físicas, de habilidade, de ilusionismo fora do comum aos elementos da sociedade, sem razões sexuais de acasalamento ou de poder. É apenas pelo prazer de se exceder, e se alguns desenvolveram essas capacidades apenas para circuito interno, outros transformaram-nas em espectáculo, como fórmula de prestígio.
Os chineses, que se dizem inventores desse espectáculo de malabarismos, têm registos que nos levam ao século III a.c., às "Batalhas contra Chi-chu", um confronto de acrobacias que o Imperador impôs como Festival anual a partir de 108 a.c.
Aliando-se a curiosidade humana à necessidade de diversão, as Festas populares desenvolveram outro género de espectáculo. Menos grandioso, mas ambulante, grupos de "saltimbancos" andam de terra em terra, feira em feira, a exibirem fenómenos da natureza, habilidades incomuns, truques de ilusão, malabarismos... tendo muitas das vezes personagens cómicos como elo de ligação.
O louco, o Bobo... são personagens irreverentes que com momices ou a exploração de "deformações" físicas (anões, corcundas) sempre tiveram uma liberdade especial de expressão. O escárnio, o maldizer, eram armas exploradas então na literatura; mas quando exercido em confronto directo com o público, provoca reacções negativas se for feito como crítica directa, podendo mesmo ser violento. Se essa crítica for transmitida com comicidade, a violência explode em gargalhada, matizando esse lado negativo.
O Homem sempre necessitou de exorcizar as dificuldades da vida com essas irreverências, razão pela qual se desenvolveram uma série de ritos, sendo o Carnaval o mais duradoiro e conhecido. Nessas festas do "mundo invertido", não se poupava nem o sacro nem o profano, o poder ou o mero quotidiano, indo mesmo até ao além-túmulo, com as Danças Macabras.
Regressando à história breve do Circo...
(continua)