sexta-feira, 12 de janeiro de 2007

ESSE SER PALHAÇO * PARTE IV

Regressando à história breve do Circo.

As primeiras notícias de espectáculos oficiais de funâmbulismo em Portugal são de 1596. E, no sec. XVIII, com a construção do Teatro do Salitre, encontramos a primeira estrutura fixa ligada às artes circenses.


A estrutura do Circo Moderno, apesar de ir recuperar todo o lado exótico das barracas de fenómenos das Feiras, vai renascer de um novo enquadramento nas exibições equestres. É imputada ao inglês Philip Astley, nos anos 70 do sec. XVIII, essa reconversão de habilidades a cavalo num espectáculo, enriquecido com outros artistas acrobatas.

Entretanto havia um moço de estrebaria que era muito desajeitado e provocava frequentemente problemas no apoio aos espectáculos, para grande gáudio do público. Chamava-se Augusto, e o Director do espectáculo, ao ver que o moço poderia ser uma mais valia para o sucesso do show, explorou esse lado de comicidade. Assim nasceu o Palhaço do Circo Moderno.

O Circo conquistou o mundo pela sua magia de realização de coisas fenomenais, pelo seu lado de ilusão de liberdade, boémio e vagabundo, pela sua vertente lúdica de espectáculo, pela fantasia e sonho mistificados. Se o Circo parece ser uma porta de saída da rotina, é também a versão mais pequena da aventura. A ele está associado o medo de ir mais além, como as alturas, ou o confronto com animais.

Há um lado lúdico de perigo, e o público quando visita a tenda do Circo vive uma ansiedade, um medo que os artistas equilibristas, malabaristas caiam, se magoem, que o domador seja atacado... É o lado macabro do ser humano que deseja pôr o Homem à prova. Se ele vence é um triunfador, se perde, ganha-se pelo espectáculo do horror, regressando-se aos sentimentos dos Coliseus romanos.

Há também um lado erótico, sonhando muito jovem com as pernas das trapezistas, das partenaires, das domadoras... que vão o mais despido que os bons costumes permitam.

E finalmente há os palhaços que desconstroem a realidade, que abrem a janela do fantástico, levando o público adulto ou juvenil a fazerem um regresso à irreverência gaiata do riso salutar e livre de preconceitos. Com as gargalhadas, o público droga-se nas endorfinas necessárias para a regeneração da vida.
(continua)