segunda-feira, 12 de fevereiro de 2007

Carnaval Português IV - OVAR

Organizado desde 1952, o Carnaval de Ovar é o maior acontecimento turístico da região, atraindo anualmente dezenas de milhares de visitantes.A preparação do Corso Carnavalesco envolve, durante todo o ano, os figurantes e suas famílias que executam, eles próprios, os trajes, as máscaras, as fantasias, os enfeites e os carros alegóricos, ricos de exotismo, criatividade e humor!
Em 1952, dá-se, a "domesticação" do Carnaval. Sonhou-se uma festa que cumprisse dois objectivos: a "institucionalização" da alegria carnavalesca e a exploração do Carnaval como cartaz turístico poderoso.
O Carnaval Sujo,
se não tivesse morrido às suas próprias mãos, vítima dos seus inevitáveis exageros, teria soçobrado as leis e regulamentos que foram aparecendo. Que calhas poderiam guiar, que fronteiras poderiam conter a guerra das terças-feiras? Era impossível! O fim de festa era nuvens de vários pós, do carvão ao ocre, do cré a serradura e nada ficava como era, onde e quando a orda dos "combatentes" passava. Durante mais ou menos 60 minutos, isto é, entre dois toques da sirene dos bombeiros, instalava-se no centro da vila (a cidade já não conheceu esta farra) a mais completa, nevoenta e barulhenta anarquia. Dos camiões rolando, derrapando, grunhindo, chiando – uns para cima, outros para baixo, uns de frente, outros de lado ou de marcha a trás –, chovia preto, jorrava amarelo, chispava branco e tudo se misturava no ar empestado de perfumes a condizer para cair de chofre ou lentamente, em cartuchadas pesadas ou em baforadas suaves, sobre os beligerantes e apanhando pelo caminho fugitivos pouco lestos e neutrais distraídos.
Portanto, em 1952, nasce o Carnaval organizado. No ano seguinte, o êxito repetiu-se de tal maneira que, em 1955, o Carnaval vareiro, na terça-feira, "deslocou-se" ao Porto, onde participou no Corso dos Fenianos. Estava lançada, em termos nacionais, a "grande festa vareira" também apelidada de "VITAMINA DA ALEGRIA". Cumpria-se um dos desígnios da "oficialização" do Carnaval de Ovar, que, em 1964, foi premiado pela Câmara com a deliberação de considerar a terça-feira de Carnaval como dia de feriado municipal.
Em 1961, "ventos progressistas" chegam ao Entrudo e, pela primeira vez na sua história de quase 10 anos (até 1952 foi a "pré-história"), a Rainha do Carnaval foi uma mulher "propriamente dita", isto é, adoptou-se, também no Carnaval, a "regra geral", a normalidade, que substituiu o uso de o Rei casar com uma Rainha-Homem.
Ano após ano, a norma ganha terreno e o Carnaval segue entre barreiras e vedações, rege-se por regras e convenções. A espontaneidade, o inventar hoje para usar amanhã, vão dando lugar ao planeamento. A estratégia é necessária uma vez que se investem somas já consideráveis.
Pela primeira vez, em 1963, o "corso" sai nos dois dias grandes do Entrudo: Domingo e Terça.
António Salvador – filho de um dos mais carismáticos foliões da década de 50 – ascende ao "Trono" em 1970 e faz 14 reinados, em séries intervaladas por algumas "usurpações". Foi o maior e morreu de ceptro na mão e coroa na cabeça, como compete a qualquer rei que se preza.
A década de 80 é a década marcada pelo aparecimento do samba no Carnaval Vareiro.
A "Costa de Prata" sai, como projecto de escola de samba, em 1983. No ano seguinte, é a primeira pronta e acabada. Foi um êxito, que marcou irremediavelmente o Carnaval Vareiro.
Há quem diga que o aparecimento da "Costa de Prata", define a passagem, na história do entrudo vareiro, da idade moderna para a contemporânea, caracterizada, fundamentalmente, pela ditadura do samba, que se expandiu como epidemia incontrolável. Em 1989 são seis as Escolas de Samba a desfilar no nosso Corso.
Continuamos, até hoje, a resistir à integração de figuras públicas no nosso Corso que, supostamente, viriam abrilhantar a nossa Festa dando-lhe mais visibilidade nos media, mas não conseguimos resistir ao ritmo contagiante do samba que parece correr nas veias de alguns vareiros como se no Brasil tivessem nascido.

(Fonte: carnaval.ovar.net/)